21 fevereiro, 2006

Espelho, espelho meu

Pode ser difícil de admitir, mas todas nós, mulheres, gostamos de nos produzir, de nos arrumar pelo menos de vez em quando.

Claro que nesse mundo de "sim, podemos ser tão machas como qualquer homem", é muito mais fácil (ou muitas vezes necessário) botar a calça jeans, uma blusa qualquer, prender o cabelo num rabo-de-cavalo e pronto, ir à luta, filhos da pátria. Cuidar do que interessa. Pagar o leite das crianças.

Mas sim, é bom, no meio desses dias tão masculinos, uma mulher sentir-se diferente. Ser vaidosa, sentir-se mais mulher. Pode ser demorado, pode ser trabalhoso, mas é um ritual. Ritual de feminilidade: o ritual de vestir-se, que é bem diferente do simples trocar-de-roupa. É um ato premeditado, e todos os passos são calculados, pensados e repensados.

Uma mulher, quando se veste, o faz ou para impressionar alguém, ou para competir com alguém. Ou geralmente os dois. Para isso, todo capricho e cuidado é pouco.

Primeiro, o banho: usamos todos aqueles 3623648 produtos que, em suas embalagens, prometem mudar a sua vida. Na verdade, eles nem fazem muita coisa, mas o efeito psicológico é diretamente proporcional ao preço que o produto custou.

Depois do banho, não satisfeitas com todas as promessas dos shampoos, sabonetes e esfoliantes já usados, nos entregamos às promessas dos cremes, géis (existe esse plural?) de limpeza de pele, tônicos, óleos hidratantes. Se todas as promessas das embalagens fossem cumpridas, seríamos as mulheres mais lindas do mundo.

Provamos pelo menos 17 combinações diferentes de roupas. E sempre gostamos mais da parte de cima do primeiro vestido e da parte de baixo com outra saia; preferimos as costas da blusa azul e a frente da blusa preta e ah, se aquela calça fosse de outra cor!

Arrumamos o cabelo. Ai, o cabelo... Nunca está exatamente do jeito que a gente quer. Mas o cabelo tem que estar bom. Se o cabelo estiver ruim... tudo fica péssimo! E passamos o tempo na briga com pentes, escovas, secador, chapinha. Vencida essa luta, pasamos alguma maquiagem, escolhemos o colar, brincos, pulseiras. Sem esquecer de levar o batom e o pente na bolsa. Por fim (aii, já estou atrasada!!), o perfume.

Duas horas (ou mais) depois, aquela conferida final no espelho diz que valeu a pena. Só nós sabemos quanto tempo e trabalho levou tudo aquilo. E na verdade nos esforçamos para parecer que não demorou nada: queremos parecer que somos lindas assim naturalmente. E sim, somos belas de natureza. Precisamos disso tudo apenas para nos sentirmos bonitas. E sentir-se assim é o grande passo para realmente ser mais bonita.